quinta-feira, 28 de novembro de 2013

todas as dores

Outro dia num programa de tv, a sábia Regina Navarro disse sobre o sofrimento (ou tema semelhante) nos relacionamentos humanos, algo do tipo: nossa dor nunca é apenas a de agora, mas todas as que já vivenciamos um dia vêm junto com ela. Sofremos a cada nova decepção, todas as outras anteriores de um vez só. Então, que ninguém duvide do quanto alguém tem que ser hercúleo pra suportar um simples desdém, de quem se quer bem ou do quanto podemos fazer sofrer por nossa insensibilidade.
 
Sempre é tempo de deixarmos o melhor de nós nas lembranças de alguém.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

linguagens

Eu que corro atrás das palavras, mesmo tentando dominar mais a semântica que a sintaxe, é verdade. Ainda assim, não acredito que seja o melhor modo de dizer. Se os silêncios não fazem sentido, se os olhos não podem ser lidos, se os jeitos não mostram o não dito; não há compreensão que salve. Não há cumplicidade explícita, não adiantam os subentendidos. Não há regra gramatical e nem acordo que dê conta de falar o que só com o coração se comunica. O erro não é de oralidade é de sensibilidade. Eu só quero ser fluente em poesia, e "voar fora da asa" como disse o poeta; o resto aprende-se sempre o suficiente. Arre!

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

crônica do fim do ano

"Só quero chegar em casa". Não é apenas uma referência a um lugar, não é apenas chegar a um ponto, geograficamente falando, é chegar a um estado, também não geográfico, mas de espírito.
É a partir do momento em que se calça as havaianas que ficaram ao pé da porta, entrar dentro do seu próprio mundo. É chegar ao que te acolhe, ao que é familiar e por isso amoroso.
É apagar a luz do quarto que se esqueceu acesa na correria da saída, lavar as mãos e o rosto como quem lava algo precioso, ou tomar um banho como quem lava a alma. É fazer um cafezinho da hora e achar o biscoito com manteiga a combinação perfeita, porque não se teve tempo de ir ao mercado pra achar a fruteira cheia ao chegar ou o iogurte preferido na geladeira.
É ligar o rádio enquanto faz pequenos afazeres pra ir se desligando de tudo que se viu ou se ouviu durante o longo dia de trabalho, porque o cérebro não quer lembrar nada, só esquecer de que somos frágeis e o mundo, às vezes, é imenso e pesado; ou talvez ligar a tv e ver e ouvir uma profusão de imagens e sons, ininteligíveis no momento, mas que  vão nos desligando um pouco da realidade, por que não?
É deitar no sofá olhando a estante cheia de livros que ainda não leu, ser flertado pelo livro do Desassossego de Fernando Pessoa e achar que ele entende que agora não há condições de lhe dar ouvidos e muito menos olhos e atenção, pois o corpo quer sossegar apenas e a mente mais ainda. Que a leitura vai ficar novamente, pra outra hora.
É se carregar no colo, fazer um cafuné ao mexer nos cabelos e se espreguiçar sem vontade de nada a não ser permanecer quieto, meio acordado meio dormindo, porque o corpo todo te diz que felicidade é apenas o tempo de um cochilo no fim do dia, ao chegar em casa.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

certamente

Será que agora,
será que
o passado
de lá, não me olha?

Será que
nesse instante
será,
só vai ser de agora
em diante?

E as horas,
se enchem
de certeza.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

venda

um olho
um outro olhar
alheio
à vista
fora do prazo

um ato
um feito
meu
no prazo
previsto

e tudo
não
passou
de um querer
vencido

*venda 
s. f.
.Ato ou efeito de vender.
  Entrega, traição.
  Faixa com que se cobrem os olhos.
  [Figurado]    Cegueira; obcecação.
 
 
 

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

"cerumano"

Ah, o "cerumano" ...Dizia um antigo professor de cursinho relatando causos típicos em que as ações humanas superaram todos os sensos e não apenas o bom senso.
Suspiro eu: Ah, o "cerumano". Até quando a estupidez, a malícia, a maldade, a ignorância, o egoísmo?
Até quando precisaremos nos proteger, de nossos iguais? Até quando, erguer muros intransponíveis, porque falando o mesmo idioma, não nos entendemos, ou pior, conseguimos cada vez mais nos estranhar?
Eu que tenho fé na linguagem, no poder da palavra. Para mim a palavra cura, constrói, une; transforma o banal do cotidiano em poesia, em beleza. Agora tenho que admitir que a palavra mata; a confiança, o vínculo, as possibilidades de crescimento mútuo entre aquele que diz e aquele que ouve.
A comunicação prevê um canal, eu presumo um caminho: o mesmo que Quintana cita no poema:
 
"Fere de leve a frase... E esquece...
Nada convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita." 
 
Eu só acredito nessa linguagem, a amorosa, não no sentido romântico do poeta, mas no sentido mesmo do amor bíblico, que tudo suporta, tudo crê, tudo compreende. Assim acredito na palavra lançada para nos salvar e promover o conhecimento, o autoconhecimento, o lirismo, a música, o conforto, o aconchego, a amizade, a paz. O resto vem pela indiferença, pela mudez até de atitudes.
Não precisamos desaprender a falar, precisamos aprender a amar. Eis, talvez, a solução definitiva.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

sobre não ver

Agradeço muito por, às vezes, como a mulher da crônica de Rubem Alves, ganhar olhos de poeta, poder enxergar as coisas pelos olhos da inspiração. Só que isso, por outro lado, também implica sentir todo o sentimento do mundo em outros momentos, até por uma banalidade; tudo assusta, tudo "espanta", tudo dói demasiadamente. E a gente que sente assim, sem poder conter, nem diminuir, só cala. E esse silêncio não alivia, pesa. O  querer esmaece. Uma lágrima de vidro se forma no canto do olho, e não cai, mas nos impede de ver a poesia ao redor. E isso é muito mais triste.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

sobre um blog

 o meio tempo após o não início propriamente dito

Bom, daí entende-se que do vazio, do silêncio, do nada; nada se cria. Então transformemos em monólogos individuais e esporádicos o que era pra ser conversa (nesse caso os motivos não importam, ou não determinam o andamento das coisas) será diverso, será unilateral, por enquanto, ou não. Uma tentativa despretensiosa de ensaiar diálogos entre os eus que abrigamos no interior da nossa mente, do nosso sentimento e entre os fatos e as consequências deles em nossa vida. Por enquanto então, monólogos, mas com características dialógicas entre todas essas partes, entre eu e você, leitor, quem sabe...
O importante é aproveitar para jogar conversa aqui dentro, ou onde caiba qualquer palavra. Como disse Manoel de Barros:

"Só as palavras não foram castigadas com a ordem natural das coisas. As palavras continuam com os seus deslimites."
e
"Eu sou meu estandarte pessoal. Preciso do desperdício das palavras para conter-me."
 
Então, bem vindo blá, blá, blá. E quem quiser silêncio e mudez e folha branca é na outra porta.
 
(em 30 de agosto de 2010)
 

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

linguagem

Quando estou um tanto "sem riso", é que a vontade de escrever vem, parece que começo a reparar na poesia das coisas, das pessoas, da vida; uma compensação talvez, "melhor ser poeta que ser triste", já disse aquele genial. Agradeço essa inspiração que vêm com a melancolia.
Mas... Êta! vontade ser feliz até doer e desaprender o alfabeto!

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

correspondência

eu seria capaz de amar esse mistério essencial que não se dissipa nem quando você fala. Seria capaz de conviver com esse riso sempre meio irônico, mesmo quando não é. Seria capaz de amar, cada ruga embaixo do olho, cada fio branco no meio dos pretos, cada detalhe, uns defeitos. Eu seria capaz de ceder um espaço, de ficar em silêncio, de ouvir o monólogo e sonhar sonhos seus; se também tu fosses capaz de querer bem assim, por escolha e vontade. Porque não sou capaz de acreditar que a indiferença permita qualquer outro sentimento. Mas é possível.
 
(em 23-10-2010)

quarta-feira, 24 de julho de 2013

semear

A inspiração ficou no passado. O passado assalta o presente, invade os espaços da memória onde poderia nascer poesia. Agora é afogar as mágoas, e arrancar com as mãos qualquer vestígio danoso daquilo que já não é; e nem mesmo foi. Aguar apenas as sutilezas que vão refazendo a vontade de plantar desejos, mais bonitos ainda.

terça-feira, 23 de julho de 2013

iminente

Aqui no espaço entre não saber e espera, entre dúvidas e sonhos; imagino o inesperado, ou o que já se antevia. Prefiro a surpresa, sempre boa, se nos tira de um estado de acomodação, de resignação dos fatos e nos move em direção ao novo, à ventura. Mas se acaso, só permaneçam as coisas nesse ritmo cotidiano, simples; terei que olhar para esse trivial dos dias com a inspiração que trago em mim, perene, que não se encerra em pontos finais. Prossigo, insisto na poesia capaz de surgir do que contraria a lógica de ser feliz.
 
(em 11 de maio de 2011.)

domingo, 21 de julho de 2013

se tanto

Quando escrevo, inscrevo no tempo uma outra parte minha que mal conheço, mais humana, intensamente suave, se é que essas duas características podem ocupar o mesmo lugar no espaço.
Quando leio, conheço o outro lado da minha filosofia secreta até para mim, mais segura, mais distante de todas as hesitações.
Algumas vezes, no entanto, há um quando que não se escreve e não se lê, é só de sentir, só.
(escrito em 30-04-2012 )

quarta-feira, 17 de julho de 2013

entretantos

o marasmo aqui se dá pela agitação de lá, do lado de onde a gente navega, nas ondas revoltas da realidade, não a virtual. O tempo, ou melhor a falta dele, ou melhor ainda a desorganização diária nos dá a impressão de que chegamos e partimos toda hora e nem dá pra apreciar o lugar, o momento, as pessoas. Nos apegamos mais a navegação que ao destino. A outra impressão é de que todos estão indo do mesmo modo, pelo simples impulso de seguir sem saber direito dos motivos ou mesmo do caminho. Mas é assim, consideremos então ao menos o movimento dos remos, dos rumos e sigamos viagem, eu volto noutra hora pra dizer do que vi por aí...
au revoir...
 
(escrito, em 02 de outubro de 2010)

terça-feira, 2 de julho de 2013

sentido

Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Lenine

quarta-feira, 12 de junho de 2013

à primeira vista

Sim, sempre acreditei em amor à primeira vista. Não comigo, porque com exatos 15 anos ( ou eram 16) eu ainda era uma menina, eu me sentia assim. E amor era coisa de novela, de filme de sessão da tarde, de conversinha entre amigas adolescentes, entre as quais talvez, eu até me incluísse, mas só às vezes.
De modo que, um belo dia, ou melhor, uma bela tarde, em idos do ano de mil novecentos e noventa e cinco de nosso senhor Jesus Cristo, estou eu a escolher meu melhor vestido para ir à escola, e nem sei o motivo, já que éramos cuidadosamente orientadas a deixar as melhores roupas pra ocasiões especiais, e ir à escola com certeza não podia ser mais comum para mim, naquele momento.
 
O fato é que, talvez porque aquele dia ensolarado estivesse me inspirando, ou sei lá, me preparando para algo muito especial; eu decidi lavar meu cabelo, porque eu tinha acabado de cortar à altura dos ombros e achava legal quando estava molhado, limpinho, penteado, me sentia linda ( vai saber o porquê!) Escolhi o tal vestido, azul com florezinhas miúdas,  mangas "balonê" pequenas, e meio rodado mas justo da cintura pra cima e era fechado de cima a baixo, na frente, por botões, também micro.  Enfim, eu estava radiante.
 
Como eu morava no interior, havia um transporte escolar público, mas que por algum motivo aquele dia não nos levaria; então eu pegaria uma carona de moto, e não só eu. Fomos eu, minha amiga e o pai dela, que era o piloto. Não imagino porque não escolhi um traje mais adequado pra uma viagem e um transporte que exigiriam bastante desenvoltura para embarque e desembarque.
 
Mas lá fomos nós, cabelos devidamente molhados ao vento, mãozinhas sobre o vestido ( o vento não perdoa) mas tentando manter a classe, afinal seriam uns dez minutinhos até chegar.
 
Enfim chegamos, dei mil graças a Deus de estarmos atrasados e a frente da escola não ter mais nenhum aluno, movimento ou gente circulando e pude descer da moto, um tanto desajeitada com meu vestido, mas tranquila. Já desci arrumando os cabelos que o vento desgrenhou e secou a despeito de minhas tentativas desesperadas de mantê-los intactos e morta de arrependida por não ter pensado em prendê-los antes de sair. 
 
Segui à frente da minha amiga, depois de agradecer a carona e subia as escadas na entrada da escola, já preocupada com início da aula, foi então que..
 
Já nos primeiros degraus, levanto a vista e miro direto nos olhos de um menino que, com certeza já estava me observando, antes de eu percebê-lo. Eu senti que o menino mais lindo do mundo já estava me olhando (toda mulher sabe quando reparam nela, eu soube esse dia, como era) , e pior, todo o sangue do meu corpo subiu às minhas faces imediatamente, eu já não estava corada, mas queimando.
 
Não foi só uma vergonha do cabelo desgrenhado, de pensar que me viu descer da moto de vestido e sem jeito, de estar sendo observada; mas de saber que aquele olhar não era um mero olhar, era intencional, e me dizia da surpresa e do quanto era bom me ver. E foi recíproco.
A gente se olhou, a gente sentiu que gostou um do outro, muito; e que o outro sabia o que um sentiu e vice-versa.
Aí eu senti algo estranho por dentro, que eu nunca havia sentido antes, e aquela fração de segundos pareceu uma meia hora, a gente ali na frente um do outro, mas eu sei que só nos cruzamos, e segui desesperada até a sala; sem entender nada.
Acho que foi amor, meu primeiro amor.
 
Foi um amor que nunca se concretizou, mas que me deu o melhor ano da minha vida, nesse sentido. Ele não sossegou até descobrir minha sala; me esperava todo dia pra me ver, até conversarmos a primeira vez, e depois todos os dias, e depois todos os dias depois das aulas, enquanto esperávamos na pracinha nossos transportes escolares que nos levariam pra casa, cada um pro seu interior, e pro nosso interior, pro pensamento que era do outro mesmo quando estávamos longe.
 
E foi assim todo o resto do ano, vontade de estar perto, flertes, carinhos, conversas bobas intermináveis, brincadeiras, pequenos esbarrões, muita imaginação, muito sonhos coloridos de meninas de quinze anos de antigamente. Tudo tão delicado e bonito, que se fosse hoje, não seria assim.
 
E nenhum beijo, e nenhum abraço. Não por falta de vontade; mas faltou algo que eu até hoje não sei e nunca quis saber. Talvez se tivéssemos namorado, tudo tivesse acabado logo. Não sei. Mas sei que nunca acabou, porque nunca foi possível. Foi só o começo e não teve fim.
 
Meu primeiro amor é bonito até hoje, me emociona até hoje, está na minha memória até hoje e estará sempre no meu coração. Eu fui feliz só por amar e ser amada, e saber disso. E isso não depende de qualquer outra coisa pra acontecer, a gente sabe quando é real, quando é  amor, mesmo que seja apenas um sentimento puro e simples.
 

terça-feira, 4 de junho de 2013

letrar

A palavra nunca é impessoal, distante, independente. Elas acontecem em nós em seus efeitos, como uma continuidade de nós que se dedicam a existir para os nossos olhos. A literatura guarda nossos sonhos, explica nosso espírito, salva nossas memórias. As palavras ganham seus contornos pelo olhar de quem as reconhece. Devemos ter intimidades com as letras.

Guilherme Antunes

quinta-feira, 30 de maio de 2013

foto/fato


MA/2013                                                                                                                                           
"... e a poesia desses momentos invadem minha vida inteira."

terça-feira, 28 de maio de 2013

vida, vidra

Não sei, só sei que foi assim. Uma menina que nasceu de vidro, não de cacos; de vidro, fininho, delicado, transparente e cortante também, natural. Daí que por ser muito fino e translúcido, as pessoas nem sempre a enxergavam, ou enxergavam outras coisa através dela; mas ela mesma, não. Não viam. E de tantos não verem, batiam de frente, trombavam sem querer, trincavam, quebravam-na e doía. Não se sabe como; doía na menina, e em quem nela esbarrava, também. E ficavam marcas, vincos, naquele vidro, e em quase toda vez que se quebrava, aquela cicatriz, por que não? Não cicatrizava porque era vidro, mas tirava um pouco da sua transparência e da sua beleza vitral também.
Pra evitar mais disso, a menina de vidro se encheu de cores, texturas, objetos e até gente que mostrasse, que existia ali, alguém. E quando se enchia de algo colorido, o vidro claro coloria-se também, e aparecia. Mas nem sempre. Nem sempre queria ser percebida por estratégias, às vezes só um pouco mais de atenção resolveria, mas nem sempre. Nem sempre alguém de vidro, se integra totalmente entre gente de carne e osso, e aço, e farpas, natural. Mas deve haver um lugar, deve haver mais alguém, de vidro também, para entender suas semelhanças e suas estranhezas.
 
Não sei, só sei que assim é.  Quem é de vidro só sabe de como é se quebrar. De se cortar, sabe quem é de carne e osso, e essa menina não é.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ufa!

Desacelerar
Diz
acelerando
anda
desanda
diz
desmanchar
ah não!
Ar sim!

terça-feira, 7 de maio de 2013

porque sim

A razão só não basta pra explicar certas coisas de ordem prática: porque o aluguel é tão caro e o espaço tão pequeno. Porque o pão anda tão caro e a vida tão barata. Respostas parciais, algumas coisas ficam com suas lacunas, sem respostas, nem mesmo razoáveis. O Entendimento é de outra natureza, a aceitação é de outra ordem, o desejo é de outra dimensão.
A razão não basta.
Mas é o que tem pra hoje.
 
Me dê três pães de sal, por favor!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

pateticando

Hoje andei como louca, quis gritar com a solidão,
Expulsar de mim essa nossa senhora ciumenta.
Madona sedenta de versos. Mas tive medo.
Medo de que ao sair levasse a imensidão onde me deito.
Ausência de espelhos que dissolve a falta,
A fraqueza, a preguiça.
E me faz vento, pedra, desembocadorua, abotoadura e silêncio.
Tive medo de perder o estado de verso e vácuo,
Onde tudo é grave e único.
E me mantive quieta e muda.
E mais do que nunca tive inveja.
Invejei quem tem vida reta, quem não é poeta
Nem pensa essas coisas.
(...)
Escorro entre palavras como quem navega um barco sem remo.
Um fluxo de líquidos. Um côncavo silêncio.
Clarice diz que sua função é cuidar do mundo.
E eu que não sou Clarice nem nada, fui mal forjada,
Não tenho bons modos nem berço.
Escrevo num tempo onde tudo já foi falado, cantado, escrito.
O que o silêncio pode me dizer que já não tenha sido dito?

 Viviane Mosé in Prosa patética (na íntegra aqui)

quinta-feira, 25 de abril de 2013

radical livre

O mundo todo está num melindre só. Ninguém pode pensar, ninguém pode falar, principalmente sem pensar. Tudo pede réplica, tréplica, explicações, justificativas. Que chatice. É a ditatura da coerência, da razão, do politicamente correto. Não se é mais livre pra errar, pra dizer besteiras. Somos obrigados a nos alinharmos a um lado, a assumir posição, a entrar na trincheira, a revidar os ataques, que ninguém tem certeza de onde ou quem começa, nem o porquê. Ai que saudade, do que não vivi, da boêmia, da malandragem, do descompromisso, da liberdade de não dizer nada, ou de dizer apenas algo sem nexo, sem senso, bom senso, sem alvo, sem necessidade de se explicar depois, porque alguém se sentiu ofendido. Eu quero falar pro mundo, do mundo, meus pensamentos meus, errados, feios, insensatos, incoerentes, e que no fundo, no fundo, só querem ser palavras, ideias, que ecoam, ressoam sem rumo, sem prumo, incertas. Sem a menor intenção de ferir alguém, de magoar o outro, de constranger, será que eu posso dizer?
Será que eu? Será que posso? Será? Eu ser eu, posso? Posso eu pensar, dizer, voltar atrás, redizer, repensar, errar, começar de novo...
 
Protegei-me Senhor, das ignorâncias, das intolerâncias que cerceiam nossa liberdade de ter fé na humanidade, de ter fé em Deus.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

chuva e braseiro

Quero uma algazarra
sambando na brasa

Me conte
cante uma canção

Perturba-me
Armada e extremamente perigosa
não se aproxime

O perigo acena
Meu deus!

Me empreste seu guarda-chuva?
Rodolfo Brandão e Ana Aitak

quarta-feira, 17 de abril de 2013

meu anjo da guarda

Quando eu era criança pequena lá em Barbacena..Ops! Quando eu era criança pequena no interior do Maranhão, aconteceu que um dia, digo, uma noite, fui à casa da minha avó, como fazia sempre, pois lhe fazia companhia, dormindo lá, desde que ela ficou sozinha.
Como era bem perto da minha casa, fui adiando a ida, e escureceu; quando lembrei, saí apressando o passo, em parte pelo adiantado da hora, em parte porque o escuro das ruas sem iluminação pública ainda me davam um certo desconforto naquele momento. (ou os postes estavam com as lâmpadas queimadas, nem sei).
O fato é que era época de chuva, o inverno estava bom, e o caminho era um trecho entre ladeiras, um baixo, onde havia bastante lama. Lá vou eu quase correndo, coração na goela, eis que minha "havaiana", uma  apenas, fica dentro do atoleiro; quando dei a passada, o pé saiu limpo, digo, sem chinelo. Parei, tateando com o pé, depois com a própria mão na lama, buscando o chinelo perdido, e nada.
De repente, me vi sozinha, no escuro, procurando algo no meio do lamaçal que parecia gigante para minhas proporções de uma menina magricela de sete anos (por aí), cada pisada afundava mais de palmo no lameiro.
E aí de mim que não sairia dali sem, pois toda vez que o chinelo quebrava, meu pai consertava com agulha e linha grossa e durava meses, imagina um ainda inteiro. Sem desculpas, teria que resgatá-lo.
Depois de alguns minutos procurando sem sucesso, um choro já se aproximando; pra minha surpresa total, pelo adiantado da hora, e a probabilidade mínima de que alguém ainda circulava acordado naquele lugar; surge um homem perguntando o que acontecia; contei e ele iluminou o local, não sei se era uma lanterna que trazia; tentei olhar seu rosto, reconhecer, mas a escuridão não deixava, só enxerguei um circulo de luz sobre o chão; encontrei meu chinelinho querido, pus no pé e disparei rumo à casa da minha avó, sã e salva e devidamente calçada.
Fiquei muito tempo, e até hoje quando lembro, tentando descobrir de quem era aquela voz, quem era aquela pessoa, já que num vilarejo em que todos se conhecem por nome, sobrenome e histórico familiar etc e tal, reconhecer alguém pela voz, é muito simples, natural. Mas não consegui.  Àquela hora também, já não era comum passar gente rumo a algum lugar, que não fosse da sala pro quarto de dormir, dentro da própria casa.
 Analisadas todas essas probabilidades; cheguei, do alto da minha inocência infantil, à conclusão de que se tratava de um anjo enviado pelo próprio Deus, para me ajudar. Inclusive era esse o relato que fazia a todos, quando contava esse episódio.
Desse dia em diante passei a acreditar e não só isso, a ter provas da existência de anjos, ou pessoas-anjo como eu gosto de dizer. E em diversas outras situações pude comprovar e identificá-las claramente. Pessoas que surgiam do nada, numa situação difícil e literalmente me "salvavam". E até hoje, embora esteja perdendo essa capacidade de percebê-los, sei que estão por aí, por aqui, muito próximo, me ajudando, protegendo e trazendo segurança e paz.
 
Hoje foi mais um dia desses, não tão simbólico, mas igualmente importante. Eu acredito!
Obrigada Senhor, por me guardar de todo o mal.
Amém!

quinta-feira, 11 de abril de 2013

bem dizer

Olhos, alhos.
sais
coisas vãs.

Tu me livras, oh Senhor!
de tudo que se opõe ao bem

e eu só preciso
pular as sete horas das manhãs.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

é pra já

Existe luz no fim do post. Existe riso dentro da arte. Existe sonhos pra toda vida. Ah como é bom desprender o olhar, dar a volta, ver outro horizontes, ver a ponta do próprio nariz. Ah como é bom se entusiasmar de novo, com algo não tão novo assim, reconhecido de repente. Há sempre um clichê que se encaixa num dado momento, agora é hora de ver as coisas mais simples de outro modo, com outros olhos. Enxergar a beleza da candura. A sensação de que a inspiração está voltando, de que a criatividade vai se libertando, me renova as forças. Aos poucos vou trocando esse tempo, vou nascendo para um eu diferente por fora e cada vez mais vívida por dentro.

E nesse movimento de mudar e permanecer a mesma, encerro hoje um ciclo, esse espaço tão querido: Segunda Versão e (re) começo aqui , porque sinto que tem que ser agora!

quarta-feira, 3 de abril de 2013

minha janela

Para além de um quadrado no concreto, o céu invade meus olhos

Tive uma idéia

Tive uma idéia (nada original e ainda com acento no E) de postar looks de amigos/as, meus, de acessórios, que eu considerasse bonitos. Como não tenho  câmera profissional (ainda), coragem pra abordar pessoas ( talvez não venha a ter) e pedir pra fotografá-las e pensando melhor ainda em tornar isso algo mais pessoal, mostrar o meu ponto de vista, sobre o que é belo, seja na moda ou em qualquer outro contexto; por que não ampliar esse olhar tão subjetivo? Por que não mostrar por fotos ou palavras e assumir de vez que esse mal da sociedade moderna, o exibicionismo me atingiu (mesmo que não seja eu, mas que seja o meu olho que veja), a necessidade de ser vista/ouvida para se sentir viva.
Bom, tem esse lance aí que eu li em algum lugar, num livro de filosofia ou site da internet. Mas para além da sociedade do espetáculo/ do consumo (necessitamos dessa publicidade para sermos felizes?) já disse Raquel de Queiroz: Eu existi, eu sou, eu pensei, eu senti, e eu queria que você soubesse. Concordo com ela, no fundo só queremos nos reconhecer no outro, na sua aceitação, na sua identificação conosco. Não pretendo explicá-la (nem sei) mas me justificar com as palavras dessa  nordestina (assim como eu) tão talentosa e importante (quem sabe um dia eu).
Assim citando outra inspiradora mulher, Adélia Prado, fiquei "livre do escrúpulo de ter procurado alívio, fiquei mansa" e informo que tive outra ideia (sem acento agora) ; fico sem receios de tentar, mostrar, precariamente, sem recursos digitais miraculosos, sem uma realidade idílica o que eu vejo; o que eu sinto; e da forma como percebo quaisquer coisas, pessoas, ideias, idéias. Por uma foto, uma citação, um exercício minha própria escrita. Aqui quero guardar, juntar aquilo que me emociona, que me toca, que me sensibiliza; compartilhar (que palavra mais facebook, mas fica) os meus guardados, os meus recortes, suportes de criatividade, porque todos precisamos de um lugar onde nos distanciamos da realidade e ficamos só em contato com a parte bonita, sonora, delicada do mundo.
Deu pra perceber que tenho essa necessidade de me explicar, de me entender, isso me faz prolixa quando escrevo. Espero que eu descubra a partir de agora, desse canto, quais encantos eu ainda vou quebrar e jogar em alguém.
 
Me sinto bem vinda, sinta-se também, quem por aqui passar.
Ana Aitak

meu jantar

20 h: 15 m
porque os tempos, os espaços, os hábitos não precisam ser fixos
hummm!

porque não há coisa mais bonita que ter amigos