quinta-feira, 30 de maio de 2013

foto/fato


MA/2013                                                                                                                                           
"... e a poesia desses momentos invadem minha vida inteira."

terça-feira, 28 de maio de 2013

vida, vidra

Não sei, só sei que foi assim. Uma menina que nasceu de vidro, não de cacos; de vidro, fininho, delicado, transparente e cortante também, natural. Daí que por ser muito fino e translúcido, as pessoas nem sempre a enxergavam, ou enxergavam outras coisa através dela; mas ela mesma, não. Não viam. E de tantos não verem, batiam de frente, trombavam sem querer, trincavam, quebravam-na e doía. Não se sabe como; doía na menina, e em quem nela esbarrava, também. E ficavam marcas, vincos, naquele vidro, e em quase toda vez que se quebrava, aquela cicatriz, por que não? Não cicatrizava porque era vidro, mas tirava um pouco da sua transparência e da sua beleza vitral também.
Pra evitar mais disso, a menina de vidro se encheu de cores, texturas, objetos e até gente que mostrasse, que existia ali, alguém. E quando se enchia de algo colorido, o vidro claro coloria-se também, e aparecia. Mas nem sempre. Nem sempre queria ser percebida por estratégias, às vezes só um pouco mais de atenção resolveria, mas nem sempre. Nem sempre alguém de vidro, se integra totalmente entre gente de carne e osso, e aço, e farpas, natural. Mas deve haver um lugar, deve haver mais alguém, de vidro também, para entender suas semelhanças e suas estranhezas.
 
Não sei, só sei que assim é.  Quem é de vidro só sabe de como é se quebrar. De se cortar, sabe quem é de carne e osso, e essa menina não é.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ufa!

Desacelerar
Diz
acelerando
anda
desanda
diz
desmanchar
ah não!
Ar sim!

terça-feira, 7 de maio de 2013

porque sim

A razão só não basta pra explicar certas coisas de ordem prática: porque o aluguel é tão caro e o espaço tão pequeno. Porque o pão anda tão caro e a vida tão barata. Respostas parciais, algumas coisas ficam com suas lacunas, sem respostas, nem mesmo razoáveis. O Entendimento é de outra natureza, a aceitação é de outra ordem, o desejo é de outra dimensão.
A razão não basta.
Mas é o que tem pra hoje.
 
Me dê três pães de sal, por favor!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

pateticando

Hoje andei como louca, quis gritar com a solidão,
Expulsar de mim essa nossa senhora ciumenta.
Madona sedenta de versos. Mas tive medo.
Medo de que ao sair levasse a imensidão onde me deito.
Ausência de espelhos que dissolve a falta,
A fraqueza, a preguiça.
E me faz vento, pedra, desembocadorua, abotoadura e silêncio.
Tive medo de perder o estado de verso e vácuo,
Onde tudo é grave e único.
E me mantive quieta e muda.
E mais do que nunca tive inveja.
Invejei quem tem vida reta, quem não é poeta
Nem pensa essas coisas.
(...)
Escorro entre palavras como quem navega um barco sem remo.
Um fluxo de líquidos. Um côncavo silêncio.
Clarice diz que sua função é cuidar do mundo.
E eu que não sou Clarice nem nada, fui mal forjada,
Não tenho bons modos nem berço.
Escrevo num tempo onde tudo já foi falado, cantado, escrito.
O que o silêncio pode me dizer que já não tenha sido dito?

 Viviane Mosé in Prosa patética (na íntegra aqui)