sábado, 29 de novembro de 2014

melancolia

O que será, que será?
Essa vontade de chorar?

Nem dor, nem falta
nem excesso
de nada

Nem saudade
nem tristeza
nem algo
que valha

A lágrima
Por que será, que será?

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Agente eficaz que dá existência ao que não existia

O que me matou não foi
o fim, a indiferença.
Não  foi o telefone mudo
Não foi a tristeza

O que me matou não foi
o sumiço sem explicação
nem as desculpas esfarrapadas
Não foi a decepção

O que me matou não foi
Não mais beijo, não mais abraço
Não mais ele, não mais amor

O que me matou
-depois de sem mim-
foi ouvir dele para alguém:
Eu estou muito feliz!

Estava muito feliz
sem mim
Sem mim
estava muito feliz

E isto
me matou!

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

pausa

Em dois mil e oito  descobri a escrita (www.ideiasdeana.blogspot.com), e passei a respirar letras, era uma necessidade, dia sim, alguns não. Mas havia frequência, era como descansar, fazia falta se eu demorava a decompor os silêncios, a desfiar pensamentos. Me fazia bem, e pasmem, algumas pessoas também entendiam com o coração aquilo que parecia tão particular.
Descobri que ser humano é comungar das mesmas dores e alegrias, é ser feliz ao nos reconhecermos uns nos outros. Um exercício tão individual que tocava o outro, era mais uma doce surpresa. Há algum tempo pausas, espaços em branco ocuparam a tela toda, nada quer se tornar palavra, e o cansaço de não me expressar daquele jeito, foi assimilado como parte dos afazeres  e responsabilidades que há dois anos tem me ocupado as horas. Parece até didático, quem pouco lê (o que mais gosta) pouco escreve.
Sinto falta, sinto saudade, daquela vontade de escrever; que vinha até mesmo dentro do ônibus a caminho de casa ou na ida ao trabalho, e qualquer pedaço de papel bastava pra guardar até chegar ao computador. Agora o relógio  toma conta de tudo e parece que não faz sentido parar, refletir significar algum fato do dia....E como era bom ver a poesia atravessando a faixa de pedestre de mãos dadas com a avó, e pedindo colo. Tudo parecia estar tão prenhe de lirismo, bastava um olhar e o alfabeto para de fato vir a ser lírico e poético.
Sinto que estou como  disse Adélia Prado : "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". A comparação não é com a genial poetisa, mas com a falta  que nos faz esse olhar de encanto para o que  seria mais cotidiano e comum.
Assim, não sei a que se deve esse grande "branco", essa pausa. Não sei se Deus me tirou a poesia ou se o culpo, pela minha própria inércia. Mas sei que quero voltar a ver  como  Hilda Hilst : "Quero brincar, meus amigos de ver beleza nas coisas."
A escrita expande a vida de certo modo,  cada registro, mesmo os que não fazem tanto sentido assim, mesmo os marcados pelos erros ortográficos, nos levam e trazem à viagens que só nós sabemos onde.
Quero trazer à tona sílaba após sílaba esses lugares, sentimentos, sensações, ideias; chamá-los à condição de textos ou arremedo de textos, não importa. Quero contar pequenas histórias, fazer poesia, dizer do vi e ouvi ou sonhei. Voltar a expressar de alguma forma aquilo que não sei dizer o que é, que não tem nome, mas dói de tanto que sinto. Amor, dor, tristeza, beleza, saudade, alegria? Não sei. Tudo isso é único e o mesmo para todos, mas todos significamos de diversos modos, e meu jeito é esse.
Espero o momento da inspiração como quem aguarda a hora de nascer...E tudo será novo, será como ver o mundo novamente pela primeira vez,  tudo me encantará e escrever será meu jeito de amar.
 

sexta-feira, 18 de julho de 2014

a gota d'àgua

nem uma gota a mais, nem uma gota a menos. Cúmulos são nuvens, não escuras, montanhas brancas que pairam no céu e acúmulos são outra coisa,  quem dera celestiais, não são; e sim pesados, desnecessários, mas até agora, indecifráveis também. Decifraria se soubesse, como, quem, onde, o quê. Até agora nem pistas, nem rastros, nem sinais. Aliás, há fortes indícios de que uma tempestade se faça no copo d'água. Cheio, cheio. E ninguém acredita há também um vazio. O paradoxo é sentir e viver em paz, sem dor, sem dó, sem ar, sem amortecer a queda. E cai novamente uma gota...Liquida qualquer possibilidade de conter-se; é transbordar apenas, que se há de fazer?

sexta-feira, 13 de junho de 2014

dia menos dia

No início das férias tem um finzinho de gripe, um começo de faxina. É um limpa que limpa gavetas e papéis velhos que vão embora, e dão mostras que o tempo passa e não vemos. Dois mil e oito, dois mil e nove, parece ontem que comprei a primeira geladeira, diz a nota fiscal amarela.
Parece ontem que tudo começou, me dou conta que só vemos relógios e ponteiros, muitas horas para pouco sentir. Viver, fora dos cronômetros escapa dos sentidos. Saudades do que não se vive.
Olho a janela por volta do meio dia, sol a pino. A luz meio amarelada do sol ofusca os olhos, soa um entardecer poético, mas é cedo para tal. O clima é bom. Alguém sai do prédio, a vida se move, segue. Vejo a imagem de uma moça de calça jeans e uma blusa meio retrô,  ainda na calçada, saindo à  rua, com guarda sol vermelho e bolsa colorida parece uma cena de filme antigo. Aprecio. Penso que há mais coisas acontecendo nesse mundo agora, do que supõe nossa vã sabedoria. Lembranças desconexas, um súbito sopro de esperança para além do agora. Retorno ao afazeres de hoje, dia de ficar em casa.  Mas a poesia  do cotidiano mostra que é capaz de  nos tirar da melancolia que é enxergar a vida como ela não é.
 

sábado, 17 de maio de 2014

das interrogações


Até as perguntas estão em dúvida, se são elas mesmas, as perguntas.
Respostas se  replicam indefinidamente, até serem aceitas; as corretas,
e nem são. Não sei. Todos sabem. E do que era mesmo que estávamos a
falar?

segunda-feira, 24 de março de 2014

equação semântica

Cabeça dura. Coração de pedra. Adjetivos pétreos. Quantitativos mínimos. Exigências múltiplas. Personalidade forte. Sentimentos frágeis. Desejos delicados. Realidade diversa. Felicidades simples. Atitudes nobres. Prosa poética. Poesia concreta. Mundo real. Um pouco disso tudo e uma parte ainda não descritível, não mensurável, não compreensível  e vamos tentando nos equilibrar, minha vida e eu.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Déjà vu

O tempo passa rápido demais, e o mundo volta mais rápido ainda ao ponto inicial de onde começou a volta que dá em torno de si mesmo. Ainda não estamos preparados pra rever o passado com outros olhos, às vezes. A vida devia explicar antes de ligar o replay. Na estreia ou no bis, hora ou outra mais assistimos que atuamos, e vá entender qual é o nosso papel nesse roteiro!?!

domingo, 26 de janeiro de 2014

Alegria

Alegria, alegria grita a cantora de axé numa música que mais deprime que alegra. Mas enfim, quem sou eu para atirar pedras no som alheio, quando já  estou deprimida antes de ouvir; então shhiiiiiiii.
Silêncio. Que qualquer palavra dói, qualquer conversa incomoda, qualquer pensamento flutua sem rumo, e esmaece como se fosse apenas um flash de uma cena de um filme ruim. Só lá no fundo, tem algo que comove, e é capaz de trazer a tona um fio de risada, uma vontade de tentar, uma esperança em dar certo. E tudo novamente passa, e volta ao estado anterior à melancolia; pois amanhã é segunda-feira e não há tempo pra tristeza no cotidiano. Agora já posso voltar a ouvir o rádio, baixinho, baixinho, devagarinho as coisas voltam a fazer sentido junto com a melodia mais comum...

domingo, 12 de janeiro de 2014

um ano feliz

Espero que não seja tarde, pra saudar 2014 por aqui. Retomar, partir de um novo ponto em diante. Já está mais do que na hora, de romper com os dias que já foram, embora no fundo, tudo não passe de simbologia. Os ciclos, os círculos, que se encerram ou os que renovam-se. Tudo não passa de dizeres, de mantras, de mitos, de melodias pra acalentar nosso sonho por dias melhores que virão. Mas pra quem acredita na força das palavras, como eu, ouvir e contar e encantar-se com esse poder do verbo, faz todo sentido. Então, felicidade já, pra todos nós.

Que assim seja!
(escrito 01-02-2012, mas repito)